Qual é o tratamento da lesão do ligamento cruzado anterior (LCA)?

Saiba como funciona cada tratamento da lesão de ligamento cruzado anterior.

Tratamento não cirúrgico

A capacidade de cicatrização do LCA é pobre, e mesmo após a cicatrização parcial do ligamento e frequente encontramos um LCA insuficiente que não atua bem na estabilização do joelho. Alguns indivíduos toleram melhor a falta do ligamento, mas alguns estudos demonstram que a ausência do ligamento sobrecarrega os meniscos e a cartilagem articular e está associado ao desenvolvimento de uma artrose mais precocemente.O tratamento não cirúrgico do ligamento cruzado anterior poderá ser considerado em indivíduos de baixa demanda, mais velhos, que apresentam uma instabilidade pequena no joelho pelo exame físico e não sentem episódios de falseio ou instabilidade nas atividades cotidianas. Estes indivíduos devem estar bem adaptados a lesão do LCA e assintomáticos, muitas vezes acabam abandonando atividades mais exigentes e reduzem o seu nível de atividade e passam a fazer exercícios específicos de fortalecimento muscular que protegem o joelho. 

Devemos esclarecer que naquele indivíduo que possui lesão do LCA e sente falseios nas atividades cotidianas o tratamento cirúrgico deve ser indicado, pois as entorses de repetição no joelho geralmente levam a lesões meniscais e condrais no joelho, dor e aceleram o desenvolvimento da artrose. A opção pelo tratamento não cirúrgico não é algo definitivo, pois alguns indivíduos podem ter um aumento da instabilidade como tempo e podem voltar a sentir falseios, episódios de entorses recorrentes e necessitarem da cirurgia. 

Tratamento cirúrgico

O principal sintoma relacionado a lesão com insuficiência do LCA é o falseio com insegurança no joelho lesionado. Indivíduos jovens e de alta demanda que gostam de praticar atividade física e esportes de mudança de direção tem indicação cirúrgica. Estes indivíduos quando não operados tendem a evoluir com entorses de repetição, lesões meniscais, condrais e artrose.

Quanto tempo depois da lesão seria melhor operar?

A cirurgia precoce até 3 meses da lesão possui os melhores resultados clínicos e funcionais, em termos de estabilidade do joelho, retorno ao esporte, menor taxa de lesões tardias de menisco e cartilagem e, consequentemente, diminui a chance de desenvolver artrose futura. Alguns estudos demonstram que a chance de desenvolver lesões de cartilagem aumenta 1% por mês entre a lesão e a cirurgia de reconstrução do LCA. A cirurgia poderá ser realizada cerca de 3 semanas após a lesão assim que houver melhora da dor, do arco de movimento do joelho, do inchaço e dos sintomas agudos relacionados a lesão do LCA. 

Como é realizada a cirurgia de reconstrução do LCA?

Na cirurgia, o ligamento roto é substituído por um enxerto, normalmente um tendão que pode ser removido do nosso corpo ou, menos frequentemente no nosso meio, um enxerto de tendão retirado de cadáver.  A decisão sobre qual tendão será utilizado depende da individualidade de cada paciente, do tipo de esporte praticado, da sua rotina de atividades ou de trabalho e da preferência do cirurgião.  

Temos 4 opções de enxerto, são eles:

1- Tendão patelar

 Através de uma incisão anterior no joelho é retirado a porção central do ligamento patelar com cerca de 1cm de espessura com blocos pequenos de osso da patela e da tíbia. Acredita-se que a fixação é mais rígida e a incorporação do enxerto é mais rápida com cerca de 6-8 semanas devido a fixação intratunel do bloco ósseo do enxerto diretamente com os ossos do fêmur e da tibial. A sua utilização é bastante frequente em atletas de futebol e é considerado até hoje o padrão ouro por possuir uma maior taxa de retorno ao esporte e menor taxa de rerotura. A desvantagem é a maior chance de desenvolver dor anterior no joelho e, por esta razão, é menos utilizado em esportes que envolvem saltos ou em indivíduos que exercem funções que permanecem em posição ajoelhada. 

2- Tendões flexores isquiotibiais (semitendíneo e grácil) 

Localizados na porção posterior da coxa. É atualmente o enxerto mais utilizado no mundo, pela incisão ser menor para sua retirada, por ser mais fácil tecnicamente e menos dor anterior em relação ao enxerto do tendão patelar. O tempo de incorporação do enxerto ao túnel ósseo é maior cerca de 12 semanas e alguns estudos relatam uma maior taxa de rerotura e de afrouxamento do enxerto, principalmente relacionados a uma espessura menor obtida do enxerto no introperatório.  

3- Tendão quadríceps

A utilização do enxerto quadriciptal tradicionalmente era mais frequente em casos de revisão de reconstrução do LCA. Atualmente vem ganhando espaço com primeira opção na cirurgia de reconstrução do LCA. O enxerto do quadríceps é retirado com uma pequena incisão, e por ser espesso pode ser retirado de espessura total ou parcial, com ou sem a presença do bloco ósseo da patela. Alguns estudos recentes demonstram resultados animadores comparáveis ao enxerto do tendão patelar com menos dor anterior no joelho.

4- Aloenxerto

O enxerto de cadáver é obtido do banco de tecidos e no Brasil é menos comum a sua utilização. O enxerto de banco possui uma taxa de falha um pouco maior que o do enxerto autólogo retirado do próprio paciente, porém se torna uma opção bastante interessante diante de uma luxação do joelho, em que existe a necessidade de reconstruir diversos ligamentos do joelho ao mesmo tempo. 

São realizados tuneis no osso do fêmur e tíbia nos locais exatos da origem e inserção do LCA nativo para a passagem do enxerto. Em seguida o enxerto do LCA é passado pelo túnel tibial, dentro da articulação e dentro do túnel femoral, sendo fixado ao osso da tíbia e do fêmur com parafusos ou outros dispositivos de fixação para conferir estabilidade ao joelho. A visualização do interior da articulação durante a realização da reconstrução do LCA e o tratamento de lesões meniscais é realizado por artroscopia.  

A utilização do garrote no membro operado durante o ato cirúrgico vem diminuindo no mundo, por se acreditar que a utilização do garrote principalmente por um tempo mais prolongado está associada a um maior risco de trombose, mais dor no pós-operatório e risco de lesão neural. A utilização do garrote poderá ser discutida com o seu médico levando em consideração o risco–benefício de cada paciente. 

O tempo cirúrgico pode variar de 1 a 2 horas dependendo do tipo de técnica empregada, enxerto utilizado e do tratamento simultâneo de lesões associadas como de lesões do menisco e de lesões condrais. Muitas vezes é possível receber alta hospitalar no mesmo dia ou no dia seguinte da cirurgia.

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